Festa de todos os Santos (1 de Novembro)

“São três os fins principais que a Igreja tem em mira mandando celebrar a solenidade de todos os Santos.” Veja quais são estes fins nesta belíssima meditação de Santo Afonso para a Festa de Todos os Santos!

Vidi turbam magnam, quam dinumerare nemo poterat, ex omnibus gentibus, et tribubus et populis et linguis — «Vi uma grande multidão, que ninguém poderia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas» (Apoc 7, 9).

Sumário. São três os fins principais que a Igreja tem em mira mandando celebrar a solenidade de todos os Santos. Quer em primeiro lugar que honremos os seus filhos que já triunfam no céu, e especialmente àqueles que no correr do ano não tiveram uma festa própria. Para que as nossas homenagens nos aproveitem, ela quer em segundo lugar, que nos excitemos à prática do bem, pela esperança do céu. Finalmente quer a nossa boa Mãe aumentar a nossa confiança, dando-nos a entender que esses nossos bem-aventurados Irmãos se empenham para nos obter os favores divinos. Que fins tão nobres e consoladores!

I. Considera os fins nobilíssimos que a Igreja tem em mira, fazendo-nos celebrar hoje a solenidade de todos os Santos. Quer em primeiro lugar que honremos os seus Filhos, que já estão de posse do céu em companhia do Esposo divino, e especialmente àqueles que no correr do ano não tiveram uma festa própria. Ao mesmo tempo, quer que em nome do Santos demos graças a Deus.

Desejando que estas homenagens nos sejam proveitosas, quer a Igreja que nos sirvam para elevarmos o nosso espírito ao céu e nos excitemos à prática das virtudes pela contemplação dos bens eternos que lá em cima nos esperam, se perseverarmos. — Tanto mais que entre os milhões de Santos que hoje veneramos, há muitos de nossa idade e condição, e talvez, como nós, grandes pecadores. Parece que a Igreja nos diz hoje com Santo Agostinho: «Não poderás tu fazer o que puderam fazer eles?» Tu non poteris quod isti et istae?

Finalmente, com a solenidade presente, a Igreja quer aumentar a nossa confiança, recordando-nos o dogma da comunicação dos santos, e ensinando-nos que todos esses bem-aventurados irmãos querem empenhar a nosso proveito todo o poder de que gozam junto do Rei da glória. — Oh, que verdade tão consoladora! Os Santos do céu, lá no meio do seu triunfo, não se esquecem das nossas misérias, e oferecem-nos o seu auxílio. No dizer de São Bernardo, já que os Santos nada mais têm que pedir para si mesmos, porque são plenamente felizes, têm um vivo desejo de interceder por nós, e se não nos tornamos indignos pelas nossas faltas, obtêm-nos de Deus tudo o que querem. Que verdade tão consoladora! Que fins sublimes da parte da Igreja na instituição da festa de todos os Santos!

II. Entrando nas vistas sublimes de nossa Madre, a santa Igreja, elevemos hoje os nossos corações ao céu, onde reina um Deus onipotente, todo solícito em beatificar as almas, suas queridas filhas. Contemplemos como esses bem-aventurados Compreensores gozam ali delícias tais, que a linguagem humana não pode exprimir. Alegremo-nos com eles, rendamos em seu nome graças a Deus, e tomemos ânimo ao pensar que para nós também terminarão um dia os temores, as doenças, as perseguições, todas as cruzes; mais ainda, se nos viermos a salvar, tudo isso será para nós motivo de júbilo e glória no céu.

Animados, pois, pelo desejo que os Santos têm de nos ajudar, lancemo-nos em espírito aos seus pés e exponhamos-lhes confiadamente as nossas necessidades. Não nos esqueçamos também de rogar a eles pelos pobres pecadores e pelo livramento das almas do purgatório, afim de que amanhã, no dia da sua comemoração, possam em grande número ir a gozar com os Santos no céu.

Ó Santos e Santas de Deus, ó bem-aventurados Espíritos angélicos, que estais abismados nos resplendores da glória divina! eu, vosso humilde servo, vos saúdo deste vale de lágrimas, venero-vos com amor, e dou graças ao Senhor vos ter sublimado a tão alta beatitude. Mas vós, lá dos vossos tronos excelsos, dignai-vos volver a mim vossos olhos piedosos. Vede os perigos que corro de me perder eternamente. Pelo amor de Deus, que é a vossa grande recompensa, obtende-me a graça de seguir fielmente as vossas pegadas, de imitar corajosamente os vossos exemplos, de copiar em mim as vossas virtudes; afim de que, de admirador que sou, chegue a ser um dia o vosso companheiro na glória imortal.

«Onipotente e eterno Deus, que me concedeis a graça de venerar em uma só festividade os méritos de todos os vossos Santos, concedei-me também que, multiplicados os meus intercessores, obtenha a plenitude das vossas misericórdias»[1]. Fazei-o pelo amor de Jesus e de Maria.


[1] Or. festi.


LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Terceiro: desde a duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 382-384.